Eu não sou tão forte assim. Eu suporto muita coisa. Eu
suportei ser levada para psicólogos toda minha infância. Eu suportei ser
encarada como diferente, estranha, autista. Eu suportei mudar para outra cidade
no momento que eu tinha concretizado amizades. Eu consegui adquirir um “foda-se
os outros” como escudo para assegurar minha paz. Eu consegui gostar de mim,
mesmo diferente. Eu suportei um ano com um namorado que me xingava quase toda
semana. Eu aprendi a amar, perdoar e olhar sempre o lado dos outros. Eu aprendi
a fazer o bem sem olhar a quem. Eu aprendi a ser boa. Eu aprendi a escutar
reclamações da minha mãe. Eu tento dar conselhos. Ela nega. Ela nega tudo. Às
vezes ela chora. Eu quero abraçá-la. Mas cinco minutos e ela está brigando
comigo de novo. Eu não sou tão forte assim. Eu cuido de três cachorros e uma
gata. Eu cuido de uma casa inteira para que as reclamações dela sejam menores.
Eu tento estudar. Eu tento ganhar dinheiro. Eu tento trabalhar pelo bem do meu
curso. Eu tento segurar a saudade do amor da minha vida que está longe. Eu vejo
o lado dela. Minha mãe reclama. Ela está pior que eu. Eu sou mais forte que
ela. Eu não me coloco como vítima. Eu a coloco. Ela e sua mente. Ela não para. Ela
quer conversar. Eu deixo ela falar. O conversar dela é reclamar. Eu deixo. Eu
aconselho. Ela nega. Ela não quer ajuda. Ela quer reclamar, botar pra fora. Ela
ainda quer conversar. Ela fala da novela. Não, novela não. Tudo menos novela.
Novela me ofende. Ofende o amor que tenho pelo país. Ela quer falar. Ela está
com depressão. Ela quer ser abraçada. Eu não consigo. Eu não sou tão forte
assim. Desculpa.
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