Feliz é a lua. Quantas pessoas não a admiraram? Quantos casais
apaixonados, compartilharam seu amor com ela? Um amor tão brilhante quanto ela?
O sol não é tão feliz. Todos os dias, ele dá dois espetáculos: ao acordar e ao
ir dormir. Mas ninguém olha. Ninguém olha seu brilho, ninguém olha as cores que
ele pinta no céu todas as manhãs e todos os fins de tarde. Estão dormindo,
trabalhando, ou no trânsito de volta pra casa. Depois vem a lua. Aí todos já
estão em casa, jantando. Talvez alguns não olhem para a lua também, mas ainda
existem outros que a observam. Às vezes ela se esconde, às vezes ela se exibe.
E essa é a meiguice dela. Fica tímida às vezes. O sol não. O sol se mostraria
todas as vezes, não fosse a chuva. A chuva é a mesma sempre. Pouca ou muita,
sempre molha. Sempre traz felicidade ou tristeza. Alívio ou melancolia. Bênção ou
raiva. Mas é sempre a mesma. A que molha o sertão e a roupa no varal. A lua é
inconstante. Mulher de fases. Rouba o brilho do sol e ainda é digna de poemas.
De casais apaixonados. Ainda o sol a ama e compartilha seu brilho com ela. E
assim, de noite, todos vemos o brilho dele nela. O brilho dela, o brilho dele.
O brilho dos dois juntos. E talvez seja por isso que ela é tão bonita. Ela tem
os dois em si. Ela reflete o amor. O brilho dele que sem ela ninguém vê, e o
brilho dela que sem ele não se vê.