domingo, 21 de outubro de 2012

Imagem

   Em se tratando de filosofia, é sempre bom voltar às origens. Dessa vez volto a Platão. Dessa vez não necessariamente por minha escolha, mas porque tive que estudá-lo novamente, agora na disciplina de Teoria do Cinema I, do meu curso. Volto novamente ao Mito da Caverna. De uma maneira ou de outra, eu sempre volto a ele. Ele significa muito para mim, e sempre posso tirar uma nova reflexão e interpretação dele. Em 2009, quando o conheci, postei "Visão de Mundo" ( http://www.yveehartt.blogspot.com.br/2009/04/visao-de-mundo.html ) baseada nele. Agora posto uma questão da minha prova de Teoria do Cinema I.

“Sócrates - Portanto, se pudessem se comunicar uns com os outros, não achas que tomariam por objetos reais as sombras que veriam?
Glauco – É bem possível.
Sócrates – E se a parede do fundo da prisão provocasse eco, sempre que um dos transportadores falasse, não julgariam ouvir a sombra que passasse diante deles?
Glauco – Sim, por Zeus!
Sócrates – Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às sombras dos objetos fabricados.
Glauco – Assim terá de ser.
Sócrates – Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertados das suas cadeias e curados da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obrigado a endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá, e o deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os objetos de que antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer que não viu até então senão fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê com mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é? Não achas que ficará embaraçado e que as sombras que via outrora lhe parecerão mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora?
(...)
Sócrates – Terá, creio eu, necessidade de se habituar a ver os objetos da região superior. Começará por distinguir mais facilmente as sombras; em seguida, as imagens dos homens e dos outros objetos que se refletem nas águas; por último, os próprios objetos. Depois disso, poderá enfrentando a claridade dos astros e da Lua, contemplar mais facilmente, durante a noite, os corpos celestes e o próprio céu do que, durante o dia, o Sol e a sua luz.
Glauco – Sem dúvida.
Sócrates – Por fim, suponho eu, será o Sol, e não as suas imagens refletidas nas águas ou em qualquer outra coisa, mas o próprio Sol, no seu verdadeiro lugar, que poderá ver e contemplar tal como é.
Glauco – Necessariamente.”
(Coleção Os Pensadores, A República – Platão, Livro VII, Páginas 226 e 227)

Na Alegoria da Caverna, Platão mostra a passagem da Imagem para a Realidade. Tomando a Imagem como algo irreal. A Imagem está primeiramente exemplificada pela sombra dos objetos. Logo, ela também é exemplificada pelo reflexo dos objetos na água. Sombras e reflexos são representações; são imagens. E quem toma essas imagens como verdadeiras, é prisioneiro, está preso na ignorância.
Para falar da verdade, Platão usa imagens. O diálogo do Livro VII começa com “SÓCRATES – Agora imagina a maneira...” (pg 225) e depois da ALEGORIA da Caverna, temos Sócrates falando: “Agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar ponto por ponto, esta imagem ao que dissemos atrás e comparar ao mundo que nos cerca...” (pg 228). Pelo que vejo, a Imagem, para Platão, não faz parte do mundo real, e é menos importante do que ele. Mas é através dela que se pode falar do que nos cerca.



Você deve estar se perguntando porque (diacho) eu estudei Platão em Teoria do Cinema. Não é difícil pensar.
A Imagem. Ela é Representação da Realidade. É o que o Cinema é: Imagem, Representação.
Platão às vezes a coloca como enganação, mas o Cinema a a ficção não são de certa forma mentiras? E a gente não usa essas mentiras pra falar do mundo que nos cerca?
http://www.yveehartt.blogspot.com.br/2009/02/um-escritor-conta-mentiras.html ) 

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