Agora, em fevereiro de 2013, vi esse filme novamente e tive que fazer outra análise para ele, para a disciplina de Cinema Documentário. É interessante eu me "auto-observar" como a análise de um mesmo filme mudou em 3 anos. Mesmo assim minha essência não muda, E nunca vai mudar. Aqui vai ela:
O filme busca
depoimentos de todos os lados: de policiais; de chefe de polícia; de
traficantes presos e soltos, menores ou maiores; do comandante do Comando Vermelho
e de moradores do morro.
É
interessante observar que tanto o discurso dos traficantes quanto o do chefe de
polícia está em torno da pobreza, e principalmente do salário mínimo, que na
época era R$120,00. O chefe de polícia fala que “é negócio”, trocar um emprego
legal que lhes dá R$120 por mês, pelo tráfico que lhes dá R$300 por semana.
O
chefe de polícia também fala que a sociedade quer que a polícia seja corrupta.
Quer que haja repressão, para que os traficantes não saiam do morro, que se
mantenham lá, que mantenham a violência lá, e que a guerra continue particular.
Ora,
porque deveria ser particular, se o governo governa a todos? O problema de uns,
que é problema do governo, não deveria ser problema de todos os outros, que
escolhem por quem querem ser governados? Todos nós votamos porque todos nós
deveríamos nos preocupar com o que o governo faz com o povo ou pelo povo.
Quando
o filme foi feito, porém, era diferente de hoje. Hoje todas as comunidades se
ainda não passaram, estão para passar pela repressão máxima que é a chamada “pacificação”,
que às vezes é de fato pacífica (ou pelo menos é o que às vezes a mídia
divulga) e às vezes não. Porém, ainda assim o tráfico não acabou.
Outra diferença é que na época do
filme o salário mínimo era de R$120. Hoje, é de R$678. O lucro dos traficantes
era de R$300 por semana, ou seja, R$1200 por mês. O lucro pode ter aumentado ou
diminuído, mas ainda assim parece que “é negócio”.
O discurso do Comando Vermelho é de
justiça. É de que todos os moradores do morro, ou que pelo menos todos os
traficantes sejam iguais, tenham a mesma coisa. Ao mesmo tempo, os pequenos
traficantes de 13 e 14 anos usam o dinheiro pra comprar tênis e roupas caras.
Claro, eles são muito novos para terem consciência social (apesar de que
garotos da classe média ou com mais dinheiro da mesma idade que eles terem menos
consciência ainda), mas a mesma coisa acontecia com os mais velhos.
Eu poderia ficar aqui falando que o
problema está na educação, que não adianta aumentar o salário mínimo e tentar
matar todos os traficantes enquanto que a educação não proporcione o verdadeiro
senso de comunidade não só na favela, mas em todo o país. Mas eu estaria
fugindo do que o documentário fala “concretamente”, porque ele apenas expõe o
problema, as diversas visões dele, e espera que respondamos. Eu interpreto uma
sugestão que o filme faz em seu título. Essa guerra não deve ser encarada como
particular. Essa guerra é problema de todo o país. Essa é uma guerra pública.